Sistemas agrários e melhoramento dos bovinos de raça mirandesa: o caso da freguesia de Paçó
Autoria(s):
- Sousa, Fernando Ruivo de;
Data(s):
- 2006-12-24T13:28:25Z;
- 2006-12-24T13:28:25Z;
- 1998;
Tipo: book
Publicador(es):
- Instituto Politécnico de Bragança;
Assunto(s):
- Bovinos;
- Raça Mirandesa;
Contribuidor(es):
- ;
Direitos: openaccess
Formato: 531169 bytes; application/pdf
Idioma: por; por
Descriçao
A raça mirandesa, considerada a raça autóctone portuguesa
mais importante na primeira metade deste século, tem sofrido nas duas
últimas décadas, uma grande erosão dos seus efectivos que a colocam
em risco de extinção.
Partindo de uma pesquisa bibliográfica sobre a origem, o solar
e a caracterização da raça, faz-se uma apreciação das acções de melhoramento
da raça levadas a cabo pelos organismos nele implicados desde
1907. Analisou-se ao nível de uma freguesia do seu solar a diversidade
e o comportamento dos criadores de bovinos de raça mirandesa, através
do estudo do processo de tomada de decisão dos agricultores relativamente
a três níveis de objectivos: objectivos gerais, escolhas estratégicas
e as escolhas tácticas no maneio dos bovinos.
Para o efeito, recorremos a diversos tipos de inquérito, consulta
do registo zootécnico do Livro genealógico e observação directa.
Na tipologia elaborada diferenciaram-se 6 tipos e 9 subtipos
de sistemas famílias-explorações, revelador da ocorrência de uma larga
diversidade de situações.
Relativamente às escolhas tácticas dos agricultores no maneio
de bovinos observou-se que existia uma heterogeneidade étnica dos
efectivos nas explorações, consequência de uma estratégia de segurança
associada ao pleno aproveitamento dos recursos disponíveis e 12 Fernando de Sousa
potencialidades do sistema família-exploração; Verificou-se que as
explorações mais pequenas com fêmeas adultas, do subtipo C2 e muitas
dos tipo D, têm dificuldade em recriar, constituindo as explorações de
maior dimensão, do tipo E, a sua fonte de substituição. Estas últimas,
não têm por objectivo explorar o mercado de venda de reprodutores,
recriam um maior número de fêmeas do que necessitam devido à
heterogeneidade morfofuncional da raça e seleccionam a sua substituição
quando as fêmeas têm 3 e 6 anos de idade; as práticas de substituição
condicionam os criadores a efectuar a selecção com base nos efectivos
das próprias explorações, que são diminutos, situação que assume
particular gravidade no caso da selecção do touro do posto de cobrição
aprovado pelo Livro Genealógico.
Os circuitos de comercialização de bovinos, em especial dos
vitelos, são penalizantes para os criadores e para a raça mirandesa. Os
compradores actuam frequentemente como seleccionadores negativos
dos animais que ficam na exploração e praticam preços iguais para todas
as raças. Tal desvaloriza os animais de raça mirandesa que apresentam
geralmente pesos ao desmame inferiores a outras raças e cruzamentos.
Relativamente ao Livro Genealógico apontam-se duas situações
que revelam a pouca utilidade da informação nele contida: a) ausência
de identificação própria dos animais inscritos, apenas identificados com
o número do SIA, sujeito a alterações sempre que o brinco de identificação
cai; b) falta de registo de todas as cobrições e parições das fêmeas
inscritas, ao não ter em conta o facto dos agricultores, mesmo para os
animais inscritos, terem opções diversificadas quanto à cobrição das
vacas, em função dos seus objectivos de produção.
Os objectivos de selecção e melhoramento do Livro
Genealógico estão desajustados dos objectivos de utilização das vacas
dos criadores. Estes estão orientados para a criação de vitelos e tracção
animal; o Livro baseia a selecção em aspectos morfológicos e num teste
de capacidade produtiva que selecciona os animais com maior velocidade
de crescimento, através de uma alimentação que não respeita as
fontes e práticas alimentares usualmente utilizadas nas explorações.
Assim, apuram-se os animais com maior velocidade de crescimento
mas sem a garantia de serem os que melhor potenciam os recursos
forrageiros disponíveis.
Relativamente à fraca utilização da IA nesta raça identificam-se três motivos: dificuldade de acesso a este serviço; falta de formação
dos criadores neste domínio; ausência de informação sobre os touros em
IA por não se efectuarem testes de descendência.
Para a conservação e viabilização económica da raça mirandesa
sugerem-se várias acções a desenvolver: a) identificar, conhecer e
qualificar todos os animais de raça mirandesa inscritos; b) reformular o
programa de melhoramento da raça mirandesa, nomeadamente nos seus
objectivos e critérios de selecção; c) modificar a organização da selecção,
definindo como unidade de selecção o efectivo da aldeia; d)
aumentar a participação dos criadores em todo o programa de melhoramento,
a promover através de acções específicas de formação profissional. Além destas acções concretas, o programa de melhoramento deve
integrar-se numa perspectiva mais global de fileira, para cujo funcionamento
é essencial estabelecer um consenso social entre os seus diversos
actores, agrupamentos de produtores, comerciantes, cooperativas e
industriais, consumidores, técnicos e investigadores.
Face às actuais limitações dos mercados aos produtos de
massa e às novas orientações da Política Agrícola Comum, abrem-se
novas perspectivas para a valorização dos produtos de raças autóctones.
Está criada desta forma, uma alternativa para a viabilização económica
da raça mirandesa.